"No Pina, bairro popular do Recife, senhoras compartilham sua vida, seu lugar, sua história. Mais do que uma história passada, compartilham uma história vivida – hoje e além.
Mães do Pina será o primeiro filme-ritual da história."
Leo Falcão, cineasta
Qual é a ponte que separa os sonhos da
realidade? Pra aonde irão as histórias que os livros não querem ouvir ou não
souberam contar? Quem melhor pode dizer ao mundo sobre o Candomblé Nagô e Jeje
do Pina? Como resgatar a cultura viva de minha comunidade? Como retribuir a herança cultural e guerreira passada por meu povo?
Talvez fossem estes os questionamentos
que levaram a pedagoga e batuqueira Mariana Bianchi a querer levar para o mundo
as vidas destas nobres Yabás. Contar ao mundo e principalmente resgatar de seu
povo, a comunidade do bairro do Pina em Recife; as histórias de
luta, resistência e religiosidade, que os livros e mídias tradicionais não “quiseram”
registrar e a TV não se importa em mostrar. Pois foi então desta vontade que a
pedagoga Mariana tornou-se um filtro de sonhos, a idealizadora do filme Mães do
Pina nos contou em um depoimento emocionado, como foi conceber e realizar essa
aventura de fé e perseverança.
Sentindo-se acolhida desde o instante
que chegou ao Pina em 2005, Mariana já naquele ano ouviu de Mestre Shacon Viana
e Mestra Joana D’Arc o desejo de filmarem suas famílias para retratarem suas
trajetórias religiosas, de ação social e dentro do maracatu de baque virado.
Conforme os anos passaram a vontade só aumentou, e em 2011 Giva Martins, marido
da batuqueira, retoma com firmeza o assunto, querendo gravar as Yás do Pina, as
senhoras de liderança religiosa do bairro, com uma câmera fotográfica. Ainda em
2011, empolgada pela ideia, Mariana começa correr mundo atrás de amigos que
pudessem lhe ajudar no projeto. Foi então que ela reencontrou o grande
amigo e cineasta Léo Falcão, Mariana diz que em seguida ao encontro, bombardeou
Léo com materiais audiovisuais sobre as manifestações culturais do Pina,
tentando assim, segundo a batuqueira, mostrar ao cineasta a vontade imensa de
registrar cinematograficamente as Mães do Pina. A ideia foi as Mães como
referência de luta e resistência na comunidade do Bode (no bairro do Pina) como
renascimento do cotidiano da mulher.
Yalorixá Maria da Quixaba |
Já de imediato, Léo Falcão abraçou a iniciativa,
ele e Mariana começaram pensando num curta-metragem, uma breve e valiosa demonstração
da efervescência da comunidade do Bode e suas Mães. Assim Léo e Mariana,
junto com a equipe da Urso Filmes, saíram visitando e registrando as Mães em
suas casas e seus Ylês. A cada dia a ideia foi crescendo e não cabia mais no formado
de curta, a equipe se apaixonou pelo projeto e pelas Mães, as essas guerreiras
tem muito a nos dizer, poucos minutos de registro não fariam justiça a grandeza
destas mulheres. No entanto no dia a dia das filmagens, eles se depararam com um
velho conhecido do cinema brasileiro, a falta de orçamento, fazendo com que
resolvessem parar as gravações. Surgido do sonho de Mariana, o projeto até
então contava com a ajuda de parceiros e amigos, mas para nossa sorte depois de
uma reunião, a equipe decidiu inscrever a proposta num edital de incentivo à cultura,
o FUNCULTURA/PE 2012 para longa documentário e o
projeto é aprovado. A idealizadora do Mães nos contou de sua felicidade ao dia
da aprovação do projeto “Nunca chorei tanto em minha vida”. Mariana assim honraria seu sonho e suas Yás, Mãe Maria da Quixaba, Mãe Elda Viana, Mãe Helena, Mãe Laura e Mãe Enézia.
Hoje o filme esta em fase de edição,
com 40 horas de registro para editar em 1h16min, Mariana afirma ser o processo
mais doloroso e sofrido do projeto, e fala do seu dever com a
religiosidade.
“Toda vez que nos encontramos na ilha de edição, eu choro. Uma edição minuciosa e carinhosa para que 40hrs de registro se transformem em uma hora e meia de muita emoção e amor. Mães do Pina é nosso sim, mais em especial é dedicado ao Candomblé e a Jurema Sagrada onde nos curvamos e deixamos as lágrimas escorrerem de nossos olhos para sentirmos a verdadeira emoção de fé e esperança de dentro de nós.
Vamos inscrever o Mães em todos os festivais que for preciso, queremos rodar o mundo mostrando nossas raízes, cultura, resistência e nosso povo! MÃES DO PINA É CANDOMBLÉ, É JUREMA SAGRADA! MÃES DO PINA É UMA DECLARAÇÃO DE AMOR!”Axé e muito Saravá!
Yalorixá Elda Ivo |
Assim, encantados pela incalculável riqueza que estas mulheres tem a nos transmitir, que o Festival Percussivo recebe em sua programação, HOJE quinta-feira 21/11 ás 20hrs, no Sesc Rio Preto, o teaser do documentário " Mães do Pina". Após a exibição haverá a vivência com duas importantes Mães do Pina, a Yalorixá Maria da Quixaba e a Yalorixá e Rainha da Nação do Maracatu Porto Rico, Elda Viana, o bate-papo contará também com a presença da idealizadora e co-diretora do documentário, Mariana Bianchi.